A temporada de desfiles ainda nem acabou mas o assunto dominante não envolve as passarelas. Na sexta-feira passada, 25 de fevereiro, veio à tona a notícia que John Galliano, estilista da Dior desde 1996, se envolveu numa briga de bar, em Paris, e fez xingamentos a uma mulher judia durante a discussão. As informações ainda eram pouco claras quando a grife enviou um comunicado repudiando qualquer tipo de preconceito e declarando a política de “tolerância zero” em relação aos supostos comentários anti-semitas do estilista, imediatamente suspenso de sua função na marca, faltando poucos dias para o desfile.
O advogado de Galliano desmentiu as acusações e a polícia parisiense chamou ambas as partes para ficarem frente a frente na delegacia. Só que para piorar a situação, ontem um vídeo amador, gravado em outra ocasião e com um áudio bem ruim, exibia o estilista falando “I Love Hitler”, claramente bêbado. Como se não bastasse, Natalie Portman, a atual garota-propaganda dos perfumes Dior, recém vencedora do Oscar e a atriz mais prestigiada do momento enviou um comunicado para a imprensa dizendo o seguinte: “estou profundamente chocada e enojada com o vídeo dos comentários de John Galliano que apareceram hoje. Na luz desse vídeo e como pessoa orgulhosa de ser judia, não vou me associar ao Sr. Galliano de qualquer forma. Espero, pelo menos, que esses comentários terríveis nos façam refletir e agir para combater esses ainda existentes preconceitos que são o oposto de tudo que é belo.”
Diante disso, a Dior tomou a decisão final: John Galliano não é mais o estilista da grife, porém o desfile, marcado para o dia 04 de março deve acontecer normalmente.
É absolutamente lamentável dar a notícia de um episódio como esse. Primeiro, pelo talento desperdiçado de Galliano. Junto com Alexander McQueen, ele abriu espaço para uma geração de novos designers britânicos e seu trabalho sem sombras de dúvida transformou a Dior de uma marca careta para algo moderno, glamuroso e altamente desejável. Foi ele o grande responsável por reviver a alta-costura no final dos anos 90 quando quase todas as maisons francesas tinham praticamente abandonado as linhas sob medida. E quem esquece de seus desfiles-espetáculos, com as maiores tops do planeta fazendo caras e bocas, cenários incríveis e suas entradas triunfais, fantasiado, para receber os aplausos?
Porém, o mais chocante é saber que uma pessoa que ao longo da vida sofreu vários preconceitos (por ser gay, por ser filho de imigrante, pelas inúmeras dificuldades que passou no início da carreira…) tenha esse tipo de comportamento. A discussão ainda vai longe, muitas alegações devem surgir e polêmicas sobre o uso da internet vão pipocar, afinal o tal vídeo divulgado sem a autorização dele levanta muitas questões sobre o uso de imagem e a liberdade de expressão. Vamos torcer para que tudo seja esclarecido e resolvido da melhor maneira possível. A imagem da Dior provavelmente não será afetada, mas o mesmo não se pode dizer sobre John Galliano e sua marca pois vai ser difícil seu talento resistir a atitudes tão retrógadas.