Dá para imaginar uma época em que só havia duas coleções de moda por ano: o verão e o inverno? Que a gente entrava numa loja, voltava daqui a um mês e estava tudo praticamente igual nas araras? Este tempo existiu e não é assim tão longínquo… O pior é pensar que comprávamos com menos frequência e provavelmente tínhamos roupas de melhor qualidade e que atendiam bem às nossas necessidades.
No mundo acelerado de hoje, a qualidade virou um item secundário na hora da compra. Para muita gente, vale muito mais ter um produto “novo”, do que um produto bem feito e durável. Comecei a pensar melhor sobre isso lendo o relatório deste mês do Trendwatching, batizado de “Newism” e também nesta matéria sobre o livro “Overdressed”, de Elizabeth Cline, que fala sobre os custos político, humano, ambiental e econômico da moda barata.
É claro que consumir o novo é a prerrogativa fundamental da indústria da moda. Sem isso ela não existiria. Ir às compras é lazer, entretenimento e até atividade cultural. Filas em aberturas de lojas, listas de espera por produtos, edições limitadas…tudo isso faz parte de grandes estratégias de marketing que, sim, garantem o faturamento e a existência de muitas empresas. Só que o custo é alto. As redes de fast fashion se esforçam para combater denúncias de trabalho escravo e tentam reverter a imagem da marca com linhas de algodão orgânicos ou eventos beneficentes, no entanto, raramente esclarecem o que está por trás dos escândalos. Do outro lado da pirâmide, as grifes de luxo tiveram que se adaptar ao passo do consumidor com pelo menos quatro coleções por ano, o que para as equipes criativas costuma ser um grande transtorno.
E os consumidores alimentam este círculo vicioso vorazmente, sempre querendo mais novidades, mais lançamentos, mais lojas etc. E onde isso vai parar? Semana passada, escrevi sobre como fico feliz em assistir os desfiles de alta-costura, onde tudo é mais calmo (do modo de produção à cobertura da mídia) e por isso mesmo mais valorizado. Então, será que não é hora de resgatar certos valores e mudar as perspectivas? O novo de hoje é o velho de amanhã mas um produto de qualidade comprado agora vai continuar sendo bem cotado daqui a muitos anos. Investimentos são bem mais interessantes do que desperdícios, não?