O estudo de comportamento de consumo é uma dos maiores investimentos que uma marca pode fazer para conhecer melhor seu público e planejar os próximos passos. No entanto, a ferramenta ainda é pouco explorada aqui no Brasil, sobretudo quando falamos do mercado de moda. Foi pensando em reverter este quadro que Camila Machion e Roberta Nigri criaram a R &C Pesquisa e Análise Cultural, uma empresa com foco na pesquisa de consumo de moda.
Nesta entrevista, elas contam detalhes do trabalho e como ele pode beneficiar a moda nacional, além de revelar o primeiro grande projeto: mapear as diferenças entre o consumidor carioca de diferentes regiões da cidade!
Modalogia: Como surgiu a ideia de criar uma empresa voltada para a pesquisa de consumo de moda?
R&C: Eu, Roberta, sou formada em design de moda, mas conheci como funciona a pesquisa de comportamento de consumo quando fiz minha pós-graduação de moda na Itália, no Istituto Marangoni. Logo depois, trabalhei por 2 anos no Valentino Fashion Group. Já a Camila é formada em Relações Internacionais e fez uma pós-graduação em pesquisa de comportamento de consumo no Senai -Cetiqt.
Nos encontramos em projetos freela que fizemos para outras empresas de pesquisa e percebemos que o mercado de moda tinha um gap nesse assunto. Poucas empresas de moda fazem esse tipo de pesquisa e que talvez por isso, o mercado estivesse passando por um momento delicado. As grifes, aqui no Brasil, colocam nas vitrines palpites e intuições do que irá vender mais, sem focar no que o cliente de fato precisa. Sentimos uma enorme carência de trabalhos qualificados no setor, por isso, como a pesquisa de mercado qualitativa é uma ferramenta estratégica de grandes empresas, nada mais justo do que investir nesse ramo para esse nicho de mercado.
Modalogia: Como o mercado pode se beneficiar com essas pesquisas?
R&C: O mercado pode se beneficiar tendo acesso a informações mais específicas sobre suas marcas e menos generalistas como costumamos ver. Nosso intuito é de, alguma maneira, provar que pesquisa de mercado não é luxo, mas sim necessidade. Toda pesquisa é adaptável e flexível às necessidades de cada cliente e é isso que a torna tão estratégica.
Modalogia: O varejo nacional está passando por um momento delicado. Uma das causas seria a falta de um bom entendimento sobre o consumidor e seus desejos?
R&C: O varejo de moda, historicamente, sempre acabou optando por um olhar mais intuitivo do seu consumidor. Pouquíssimas marcas investem em pesquisa de mercado. O ponto é que os consumidores estão percebendo que os produtos estão se tornando cada vez mais intercambiáveis. Ou seja, existe um conjunto de marcas que fazem produtos parecidos tornando a decisão do cliente “quase” que aleatória. Cabe à pesquisa mapear o que pode ser feito para que uma marca entenda seu cliente e entenda suas expectativas rumo a sua fidelização
Modalogia: A moda carioca continua sendo referência em produto e estilo de vida para o resto do país. O que ela tem de tão especial e como seus valores poderiam ser melhor aproveitados pelas empresas locais?
R&C: A moda carioca se apropriou muito bem do Rio de Janeiro não como cidade, mas como cartão postal. O estilo de vida dele é um equilíbrio perfeito entre bem-estar, vida profissional e pessoal. Isso faz com que não somente seu produto seja desejado, mas também seu o “estilo de vida”. Ser carioca é o sonho de muitas pessoas em outras regiões do Brasil. Porém, quando estávamos desenvolvendo outros projetos, percebemos que existe uma diferença de comportamento de consumo entre cariocas de diferentes regiões da cidade. E é esse mapeamento que estamos fazendo. Acreditamos que esse estudo, feito em parceria com o Instituto Rio Moda, nos responderá muitas questões sobre o consumo no Rio. Desde o que colocar em cada ponto de venda até como se comunicar com cada carioca. Assim, muitas empresas de moda irão conseguir se beneficiar desse projeto.