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A temporada de desfiles para o outono/inverno 2016-17 terminou na semana passada e, sem surpresas, o assunto dominante foi a mudança no calendário. Nova e York e Londres estão dispostas a tornar os desfiles voltados para o consumidor e já contam com Tommy Hilfiger, Rebecca Minkoff, Tom Ford e Burberry, entre outros, adotando o novo formato. Milão e Paris, como era de se esperar, não querem modificações, o que não deixa de ser irônico já que as marcas mais poderosas do mundo e que podem mudar seu modo de produção quando bem entenderem desfilam nas duas cidades.
Pessoalmente, não vejo o problema principal na antecedência dos desfiles, mas sim nas datas de lançamento do varejo. Há anos me pergunto por que os lançamentos de primavera/verão acontecem nos meses mais frios e os de outono/inverno em pleno verão. No Brasil, mal acaba o carnaval e as lojas correm para colocar peças mais quentinhas nas vitrines, mesmo no calorão de meados de fevereiro, inicio de março. Faz sentido? É claro que não! Se pensarmos em grifes com distribuição global, a confusão só aumenta pois inevitavelmente elas vão oferecer a maior parte da coleção em discordância com o clima local de muitas regiões! O mais sensato seria focar em um mix de produtos compatíveis com todas as estações pois a realidade mostra que o consumidor compra primordialmente por necessidade (no frio, queremos casacos, no calor, vestidos de alcinha). Não é à toa que os camelôs espertos surgem do nada com um monte de sombrinhas ao primeiro sinal de chuva!
Deixando a discussão sobre o clima de lado, transformar os desfiles em eventos para os consumidores têm implicações sérias para a indústria. Em primeiro lugar, os compradores de multimarcas e lojas de departamento ainda precisam ver uma coleção meses antes do lançamento para fazerem seus pedidos. As revistas também precisam das peças para fotografarem editoriais, o que não acontece da noite pro dia. Então a solução será manter os showrooms nas datas usuais para buyers e jornalistas/produtores, que por sua vez não poderão divulgar as imagens para não estragar a surpresa pro público. E como as marcas irão fazer isso? Todo mundo vai assinar um acordo de confidencialidade? E quando o desfile acontecer, eles serão convidados para ver a coleção novamente, correndo o risco de ter uma impressão completamente diversa daquela do showroom? Ver uma roupa em uma modelo, com cenário, iluminação e trilha sonora específicos é bem diferente de ver roupas penduradas nas araras.
Por fim, será que a mudança não será benéfica apenas para as grandes marcas? Não duvido que o desfile da Burberry em setembro, cujas roupas estarão nas lojas imediatamente após o show, vai ser um sucesso comercial. Além de ser novidade, o evento vai ser cercado por uma grande ação de marketing. Mas como as pequenas empresas vão lidar com isso, já que elas dependem de diversos fornecedores e produzem de acordo com a demanda do atacado, que ainda representa a maior parte das vendas de muitos estilistas? Como eles vão bancar esta diminuição drástica no tempo de produção?
Apesar de ser uma indústria que é movida por mudanças, a moda não gosta delas e costuma resistir bastante até incorporá-las. A única certeza no momento é que elas são necessárias mas não precisam ser adotadas por todos imediatamente. Toda essa discussão está mostrando que há muitas alternativas a serem exploradas e que o mais importante é focar em tornar a marca relevante, seja lançando antes ou durante a estação, seja investindo em formatos digitais para mostrar as criações ou até mesmo em outras opções de varejo. Relevância talvez seja a grande palavra-chave aqui pois o x da questão está no excesso de ofertas no mercado e não a forma como elas são apresentadas. Acredito que os consumidores continuam dispostos a esperar alguns meses para comprar uma peça memorável. Só que o problema é que atualmente pouquíssimas delas são de fato memoráveis.
Fotos: Prada e Marc Jacobs Outono 2016 (americanvogue.com)