Eu sempre sonhei em cobrir as temporadas de moda mundo afora, mas depois de alguns anos no entra e sai das salas de desfiles e vendo a multiplicação absurda do número de shows por temporada, a coisa perde um pouco a graça. Ainda bem que existem os desfiles de alta-costura!
Além de durarem poucos dias e de ter um line-up enxutíssimo, a temporada da couture ainda guarda algo que o prêt-à-porter perdeu há muito tempo: o foco nas roupas. As semanas de moda regulares viraram espetáculos tão midiáticos que os looks da passarela ficaram em segundo (ou terceiro, ou quarto) plano, afinal é preciso fotografar o street style, as editoras e celebridades na primeira fila, fazer Instagram nos bastidores e tuitar tudo em tempo real que não sobra tempo para apreciar a modelagem e a construção de uma roupa, o conceito que foi aplicado na coleção e os detalhes que diferenciam uma grife de luxo.
Na alta-costura isso ainda é possível! E com a chegada de Raf Simons na Dior, o segmento ganhou mais frescor, perdendo aquela aura de “roupa para senhoras milionárias, celebridades no tapete vermelho e festas de gala que a gente só vê na Vogue”. Os países emergentes mandam novas clientes endinheiradas, mas elas também estão acompanhadas por uma nova geração não apenas interessada em vestidos exclusivos, mas também em roupas sofisticadas e que podem ser usadas em outras ocasiões sociais – vide o número de looks de calças, feitos para o dia. Ainda que uma parcela mínima da população possa consumir os produtos, há um espaço crescente para eles no faturamento das grifes. E como não há sensação melhor do que se encantar com um trabalho artesanal, feito pelos melhores profissionais do mundo (e isso inclui costureiras, bordadeiras, modelistas – as figuras que não aparecem mas são fundamentais), longa vida à alta-costura!!!