Cadê a Criatividade da Moda?

Quando os primeiros sinais da crise econômica começaram a aparecer com força, muitos analistas do setor das artes diziam que períodos difíceis são muito desafiadores em termos de criatividade e anunciavam que boas surpresas iam aparecem. Bem, falo setor das artes de uma forma genérica, que englova moda, cinema, literatura, design e afins, apesar que não considero moda como arte, com raríssimas exceções.

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Look da alta-costura de outono 09 de Lacroix. Tem gente que fala que ele está à beira da falência por sua moda muito dramática…

Pois oficialmente o mundo está em crise há uns seis meses. Na moda, já vimos marcas falindo, lojas fechando, o mercado de luxo em desespero para se “reinventar”, a alta-costura morrendo, Christian Lacroix quase chorando por ter recursos pra manter a grife e por aí vai. As notícias não poderiam ser piores, mas como diz a tradição, nestes momentos de reflexão sempre aparecem criações de vanguarda, movimentos jovens que contribuem para expor a insatisfação da sociedade. Nos anos 60, como protesto contra a guerra do Vietnã surgiram os hippies, nos 70, quando a Inglaterra estava mergulhada numa profunda crise econômica, vieram os punks e, nos 90, quando os EUA atravessavam uma certa recessão, o rock grunge acabou dando a cara de uma tal geração X. E agora em 2009??? Cadê os movimentos, cadê a criação, cadê a rebeldia, os protestos, qualquer forma de catarse?…

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Look do outono 2009 de Gareth Pugh

Como o assunto aqui é moda, vamos falar objetivamente: quem é que hoje em dia faz uma moda transgressora, de vanguarda, que surpreenda, incomode, assuste…enfim desperte algum sentimento além da óbvia admiração porque é bonito ou porque “é uma peça eterna que as mulheres vão querer ter no seu guarda-roupa”. Aquela figura do estilista ousado, conceitual e que empurra a roda da moda para frente está em extinção. Talvez as únicas exceções sejam alguns poucos novos talentos britânicos, como Gareth Pugh, e Alexander McQueen, que na última temporada de desfiles fugiu do seguro e do lugar-comum ousando ser ousado.

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Alexander McQueen – outono 2009

Na moda brasileira então…prefiro não comentar. Tudo bem que não temos essa tradição de chocar, mas também parece que nos vestimos de conformidade. E nos raros eventos que existem dedicados aos novos talentos (aonde se espera menos compromisso com o comercial), até se vê boas peças, cortes bonitos e… só. Ninguém se arrisca, ninguém propõe uma mudança, um caminho alternativo que seja.

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Look da primavera 2009-10 de Ronaldo Fraga, um dos poucos brasileiros que fazem moda para pensar

Sim, esta coluna é um desabafo e foi incentivada por duas matérias:

1)      Uma entrevista da Cathy Horyn com Louise Wilson, coordenadora do mestrado da Saint Martins, que reclamava desta conformidade por parte dos alunos cuja grande responsabilidade é saber cultivar a juventude na moda trazendo novas idéias. Ela fala que chegamos a um ponto em que a moda está muito na moda e talvez isso seja um problema. A moda precisa de uma dose de paridade para inovar.

2)      Uma matéria no PSFK escrita por Gill Linton falando sobre como todas as pessoas estão se vestindo iguais, graças às cópias do fast fashion, que tornaram as tendências lançadas pelos grandes nomes acessíveis. Particularmente, acho possível comprar nessas lojas e ainda assim manter a sua identidade. O problema é que tanto se promove a “era do individualismo na moda” mas o que mais se vê são pessoas usando os mesmos modismos para ficarem “hype” e profundamente preocupadas em combinar a blusa com a calça e o vestido com a bolsa.

Recentemente, lendo um artigo da Lisa Armstrong questionando o futuro da alta-costura, vi um comentário que acendeu uma grande luz amarela na minha mente. A leitora dizia o seguinte: “fashion is so last season” (a moda é tão estação passada). Será que é isso que vai precisar acontecer para a indústria reagir???

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