Por Mirela Lacerda
Quando Nicolas Ghesquière, da Balenciaga, desfilou o seu outono/inverno 2007, em fevereiro do ano passado, os comentários sobre como ele conseguiu traduzir toda a multiplicidade étnica do mundo contemporâneio foram unânimes. Sem dúvida, foi uma das coleções mais influentes dos últimos anos: uniu prêt-a-porter de luxo e streetwear maravilhosamente bem e trouxe uma série de peças largamente copiadas.
Por que estou falando disso? Simples. É só olhar para um lenço “palestino” que imediatamente lembro do desfile e fico analisando os efeitos devastadores de uma tendência. Acho que nenhum lugar do mundo ficou livre da massificação desses lencinhos. Primeiro foi na Europa, depois nos outros países e, claro, no Brasil. Neste último inverno, perdi a conta de quantas pessoas vi usando o acessório. Cansou, mas passou rápido, pensei. Ledo engano. Essa semana olhando as vitrines, encontrei novas versões, em geral lisas do tal lenço e o GNT Fashion fez uma reportagem especial. Aiiiiiiiiiiiii… jura?
Confesso que tenho uma certa implicância com lenços e acessórios que ficam soltos pelo corpo. Mas o que mais me irrita é ver essa pasteurização, o uso indiscriminado por pessoas que não fazem a mais vaga idéia do significado daquilo (sim, os palestinos usam não porque acham bonitinhos) e compram simplesmente por “estar na moda”. Não, não e não concordo!
Se você faz isso, pare neste minuto e vá ler um livro sobre Estilo pessoal (Chic, O Essencial). Depois reflita sobre a sua vida, o seu guarda-roupa e tente conhecer um pouco dos problemas do Oriente Médio de quebra também, afinal moda é cultura geral… Se mesmo assim, você chegar à conclusão de que os keffiehs são pra você, ótimo. Use sempre, ainda que ninguém mais aguente olhar pra eles. Se não é o caso, guarde correndo no fundo do armário e prometa que nunca mais vai pensar neles, nem se um legítimo lenço Balenciaga cair em suas mãos.