Daspu: Modos de Usar, Moda para Mudar

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Os projetos da Organização Não-Governamental Davida privilegiam ações lúdicas para tratar de assuntos de cunho político-social. Um de seus projetos foi a criação, em 2005, de uma grife conhecida nacionalmente por DASPU que tem foco na produção de uma moda diferente em sua essência. Mas por que a DASPU dá o que falar?

Lenz (2008) levanta quatro pontos relevantes acerca da aceitação e identificação com a DASPU. Primeiro, ele aponta que a grife nunca teria frutificado não fosse pelo contexto de uma luta política. Além disso, o nome da marca, fazendo alusão à grife multimarcas Daslu, que havia sido incriminada por sonegação fiscal e corrupção naquele momento, o brilhantismo do nome, somado ao discurso político foram complementares para o sucesso. Outra questão levantada é a moda ser vista como arte, tendo variadas temáticas hoje em dia. Moda não é apenas tecido cortado e costurado, moda é linguagem temporal e identitária.

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O terceiro ponto levantado pelo autor é o empreendedorismo empresarial, uma vez que a DASPU nasceu dentro de um contexto de ativismo, tendência hoje para segmentar consumidores, que compram para investir e apoiar uma causa, o ativismo político dentro da moda é sentido pelo consumidor da DASPU. E finalmente o quarto aspecto levantado é o erótico. As prostitutas sempre foram alvo de fantasias de homens e mulheres, e brincar com essa lógica auxilia a venda de qualquer produto. Segundo Lenz, sexo vende, ou seja, o desejo de vestir DASPU vai muito além da vontade de consumir a marca, há uma vontade de deixar livre o sentimento de prazer, de gozar a fantasia erótica da prostituta.

“O desejo de vestir DASPU vai muito além da vontade de consumir  a marca. Há um desejo de compartilhar a linguagem dos gestos pornográficos, as fantasias, o erotismo, os prazeres da noite… É como se abrisse um possível, a partir da tensão entre moda e ação política, moda e pornografia, padronização e diferenciação” Bortolanza (2007)

Assim, a DASPU encontrou a fórmula certa para falar das suas questões, fugindo das “histórias tristes”. O trabalho da DASPU, apelidado de estilismo da autoestima, acaba funcionando como alavanca para lidar com esse grupo, sem apelar para as condições de sentimentalismos e emoções ligadas à pena e tristeza, usa a passarela com um lugar de ativismo e política, dando visibilidade às causas de um público estigmatizado e marginalizado. É a nova roupagem da antiga passarela, a “passarela-passeata” a cada ano mostra a sua cara e brinca com irreverência, lançando moda e ideologia.

Referências Citadas:

BORTOLANZA, Elaine. As passarelas passeatas da Daspu.

LENZ, Flávio. Daspu: a moda sem vergonha. Ed Aeroplano. Rio de Janeiro, 2008

Hilaine Yaccoub é antropóloga e mestranda da UFF-RJ. É professora e desenvolve pesquisas na área de Antropologia do Consumo tendo consumo popular, moda e pesquisas de tendências como temas de interesse. Tem experiência em pesquisas etnográficas aplicadas às pesquisas de mercado, com foco em comportamento e hábitos de consumo, avaliação de marca, imagem, serviço e produto. Assina o blog www.teiasdoconsumo.blogspot.com e gentilmente nos cedeu um resumo do trabalho apresentado na VII Reunião de Antropologia do Mercosul : “Diversidad y poder en América Latina”, 29 de setembro  a 2 de outubro de 2009, Buenos Aires, Argentina. hilaine@gmail.com

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