No último dia de Fashion Rio, saímos a campo para desvendar um enigma. Se falamos tanto na “morte” das tendências, na multiplicidade de escolhas e na liberdade do consumidor se vestir do jeito que quer, por que vemos tantos temas, peças e cores repetidas nas passarelas? Confira a opinião de alguns profissionais:
Maria Prata, editora-chefe da Fashion TV Brasil:
“Hoje em dia, as marcas que seguem as tendências mais fortes do mercado são aquelas que precisam vender, que têm uma posição muito grande e têm que atender uma demanda. O público gosta de comprar o que ele tem certeza que vai usar pois tem pouca informação para fazer o seu próprio estilo, então gosta de seguir o estilo que lhes é pautado. As marcas, geralmente as maiores, seguem essas grandes tendências. Mas acho que a moda hoje em dia está muito mais democrática, vemos uma quantidade de opções muito variadas.”
Lula Rodrigues, jornalista e blogueiro:
“Para ser uma indústria, a moda tem que vender, e para isso ela precisa formatar padrões que serão seguidos. As roupas serão confeccionadas, os tecidos, os pigmentos e as cores têm que emplacar, a roda da fortuna tem que girar. As pessoas têm que comprar roupa, as peças têm que acabar, as pessoas têm que renovar, comprando, muitas vezes, coisas que não precisam. É todo um ciclo que estabelece tendências. Acho incrível alguns estilistas dizerem que não seguem tendências. A partir do momento que um estilista compra tecidos numa Premiére Vision, ou no Paraná, ou em Friburgo ou em Sergipe, esses tecidos são feitos com um determinado objetivo, que é vender. Não adianta dizer que não segue tendências, elas são necessárias para que a moda seja uma indústria, para que possamos estar aqui fazendo um blog, um site, vendendo nosso conteúdo e ganhando dinheiro com isso. Estar na moda, ser blog e site de moda é uma tendência, não tem como escapar.”
Iesa Rodrigues, editora de moda :
“Se não tivermos tendências, não se dirige a produção, cada um vai fazer o que quer. O consumo se motiva quando vê alguma coisa diferente. As pessoas dizem: “não, a rua é quem manda”. Só que a ‘rua’ não costura em casa. A ‘rua’ usa o vintage ou customiza, mas mesmo aí já existe o trabalho da indústria, de uma tendência passada. Inclusive é uma das tendências reciclar o passado, ou então você pode pensar no futuro, pode pensar no presente, mas tem que ter um caminho, porque sem ele como que você vai justificar a aquisição de novos produtos? Parece comercialista, mas o emprego das pessoas depende disso. Em geral, quem trabalha com moda não aceita muito isso, porque sabe toda a estrutura que existe por trás, sabe que é uma estratégia de produção. Por ser uma pessoa que sabe disso tudo, posso me dar ao luxo de não seguir tanto a moda e acabo escolhendo coisas que têm mais a minha cara e serão mais duradouras. Mas isso, é para a gente. Enfim, as tendências têm que existir, senão será um caos, pois com a quantidade de estilistas de hoje, a produção não dará conta.”
Glória Kalil, consultora de moda:
“Ela só não precisa, como não apresentou tendência nenhuma nessa estação. Se alguém se propôs a fazer uma lista, com certeza ficou faltando alguma coisa, diante de tantas possibilidades. A lista de tendências é mais uma tentativa dos jornalistas de ajudar as pessoas. Atualmente é impossível dizer o que é tendência, porque são tantas as ofertas da moda que você não consegue mais determinar uma lista. O que estou dizendo nessa estação é: nós estamos diante de uma estação onde o que vai valer é o estilo, não a moda. Cada um vai escolher dentro de todas essas ofertas, o que fica bem no seu estilo.”
Mirela Lacerda, diretora de informação da Modalogia:
“A indústria da moda precisa das tendências porque elas funcionam como redutores de incertezas. Principalmente aqui no Brasil, onde a indústria ainda é insegura e gosta de ter o aval do que vem de fora. Os empresários precisam ter essas referências e para isso recorrem aos bureaux de tendências, viajam e acabam comprando peças lá fora para copiar aqui por medo de ‘errar’ e não ter sucesso nas vendas. Por mais que falemos que hoje em dia a moda é democrática, que cada um usa o que quer, que não existe mais imposições e regras, isso ainda é muito relativo, porque as pessoas querem sim ter uma referência, o consumidor quer saber o que está ”na moda’. E a imprensa acaba desempenhando o papel de orientar o consumidor no que ele deve comprar.”
Cris Gurgel, jornalista do World Fashion Daily:
“Embora muitos estilistas não sigam tendências e queiram se libertar dessa escravidão, na verdade eles precisam de um norte, de informações que resumam o sentido dos desejos dos indivíduos. O enigma é: todo mundo quer ser diferente e, ao mesmo tempo, pertencer a um grupo e para tal ele tem que ter uma identidade com o grupo que se dá por pontos semelhantes, daí surgem as tendências. Agora, eu acredito que as tendências podem se transformar em influências, inspirações que resumam esses desejos ocultos do consumidor ou dos indivíduos e não se tornem uma prisão, uma condição para você pertencer ao grupo.”