Acho que ninguém vai viver para ver esta tendência mas de vez em quando a moda ironiza a sua própria obsessão com a beleza e dependendo do caso, nos faz refletir sobre nosso verdadeiro terror de se deparar com os sinais do tempo.
A W de setembro tem um editorial bem incômodo, fotografado por Steven Klein com Amber Valletta “envelhecendo” até chegar aos 120 anos. A história começa em 1929 e atravessa as décadas com a personagem participando de eventos marcantes para a moda. A própria modelo, de 37 anos, declarou que foi um desafio fazer o trabalho e que ficou com medo de enfrentar algum tipo de retaliação da indústria! No fim, ela encarou a experiência como uma manifestação artística e reconheceu que a idade chega para todos. Para Amber, as fotos são uma representação do que uma mulher pode se tornar, sem deixar de lado o estilo.
A idéia é incrível e as imagens de Klein, idem, mas é impossível não ficar desconfortável ao virar as páginas e ver a beleza da modelo “indo embora”, afinal, na nossa concepção cultural, beleza é sinônimo de juventude. E juventude = felicidade…
Fiquei pensando sobre o assunto e fui conversar com a Dra. Cristina Graneiro, da Clínica La Liq, que lida boa parte do tempo com essas questões. Ela me contou duas histórias engraçadas:
Na primeira, a paciente ligou às 7 da manhã de um sábado, aos prantos, pedindo um preenchimento de lábio emergencial para que o namorado prestasse atenção nela… Na outra, a paciente decidiu fazer botox pois o marido começou a “olhar para os lados”! Nessas horas, a dermatologista vira quase psicóloga para entender o que está por trás dessa busca absurda por uma perfeição que não existe!
Exageros à parte, quem nunca achou que uma leve esticadinha no rosto ou o extermínio de uma ruguinha deixariam a vida mais feliz? É claro que procedimentos estéticos que ajudam a elevar nossa auto-estima são bem-vindos e estão aí pra isso, só que existe uma grande diferença entre sentir-se bem e colocar esses tratamentos como chave da felicidade. Juventude não é sinônimo de felicidade e a beleza é subjetiva demais pra ter prazo de validade em um ser humano. Mudar esses conceitos é uma questão de atitude pessoal. Lembra daquela campanha da Dove? Então…
Para terminar, dá pra perceber que a personagem do editorial da W não era feliz nem aos 29 anos???