Artigos recentes sobre a moda brasileira na mídia internacional me surpreenderam. É a primeira vez que os jornalistas procuram expor a realidade do nosso mercado e tentam entender o que nem nós sabemos explicar! Parece que o boom econômico do país os fez enxergarem que não somos apenas a terra das belas modelos e do beachwear, mas que temos um mercado em expansão, porém cheio de complexidades. O Financial Times, o WWD e o Business of Fashion trouxeram questões bem relevantes. Aqui vai um resumo de cada:
A matéria do Financial Times pergunta sobre a necessidade de termos duas semanas de moda. O jornalista Vincent Bevins é bem direto ao relatar que editores e compradores chegam sem fazer ideia do que esperar das marcas brasileiras, se elas estão à venda em seus países e qual semana de moda é a “oficial” no calendário. Ele argumenta que por uma questão de imagem, o Fashion Rio deveria mostrar desfiles de marcas de beachwear enquanto o SPFW seria o centro de uma moda mais urbana, o que obviamente não acontece (o exemplo mais claro é o da Osklen, que debandou pra São Paulo há muito tempo). O texto termina dizendo que há negociações para unir as duas semanas, mas que nenhuma ação foi tomada por enquanto.
A outra matéria é do WWD, assinada por Michael Kepp, sobre as semanas cariocas (Fashion Rio, Rio-à-Porter e Fashion Business) e chama a atenção para o que também está acontecendo em outros setores da economia: a desaceleração. Em ambas as feiras, os balanços foram positivos, mas não cresceram tanto quanto no período 2010-2011. O texto ressalta a ascensão da classe C, que hoje junto com a classe média alta é a grande responsável pelo consumo de moda no país. Enquanto o primeiro grupo está ávido por comprar produtos “fashion” em lojas de departamento, o segundo está garantindo o sucesso das grifes de luxo que chegam aqui. O problema é que a classe média intermediária, que está sofrendo mais com o aumento no custo de vida, está apertando os cintos, o que dificulta a entrada de marcas como H&M, Gap e Uniqlo, com foco nesse perfil de consumidores. A matéria ainda traz depoimentos de compradores internacionais sobre as marcas e peças favoritas que encomendaram pra suas multimarcas.
Finalmente, Imran Amed, do Business of Fashion, faz um raio X bem realista do mercado de luxo brasileiro. A partir de vários depoimentos, ele questiona porque pagamos 3 vezes mais pelo mesmo produto, fala das barreiras de importação, do sucesso da Osklen e da tentativa da InBrands ser a versão brasileira do LVMH ou do PPR. E finaliza mostrando que nossa paixão por moda e a necessidade emergente de mostrar status é o grande motivador de consumo. O que talvez explique os preços altos e as semanas de moda em dobro, não é?
Foto: Osklen – inverno 2012 (Agência Fotosite)