2013 foi um ano muito difícil para a moda brasileira. E 2014 chegou sem grandes esperanças. Do line-up decrescente das semanas de moda ao varejo lutando contra custos cada vez mais altos e vendas cada vez mais rarefeitas, o cenário é desanimador. No entanto, não dá pra dizer que a crise pegou todo mundo de surpresa, pois o processo foi gradativo. Será que ainda é possível reverter este quadro?
De um lado, os problemas de longa data: impostos abusivos e encargos trabalhistas absurdos fazem o custo dos produtos irem parar nas alturas. Infelizmente, só o governo pode mudar isso e nada indica que a curto ou médio prazo haverá alguma modificação.
Por outro, temos a chegada maciça das grandes marcas internacionais – de luxo e de fast fashion, que sem dúvida têm um apelo enorme para os nossos consumidores. A tendência é que mais grifes desembarquem por aqui e/ou ampliem o número de lojas. E há ainda as viagens para o exterior, que mesmo com dólar mais alto não devem diminuir. Quantas pessoas você conhece que dizem que não compram mais roupa no Brasil? É só fazer uma conta simples para entender que a fatia do bolo reservada ao varejo nacional está ficando cada vez mais fininha…
As questões são complexas e envolvem fatores econômicos, sociais e até culturais. No entanto, há o outro lado da moeda: o que o setor fez para ser competitivo? Muito pouco. Apenas algumas empresas se prepararam para enfrentar a situação – e provavelmente são as únicas que não estão sofrendo com a queda das vendas. A maior parte delas continua sem investir em gestões profissionais, em funcionários qualificados, em plano de metas ou análises de mercado. Então, como concorrer com quem tem tudo isso? Como querer mudanças fazendo tudo igual?
Acho que esse é o grande X da questão. O tempo do amadorismo já era. Se a moda brasileira quer ser levada a sério vai precisar passar por profundas reformulações. A primeira, e talvez mais importante, é deixar o egoísmo de lado. Os belos exemplos do Council of Fashion Designers of America (CFDA) e do British Fashion Council são a prova de que a união faz a força. Pelo que vejo, nossos órgãos ligados ao segmento estão mais interessados em promover, sem muita estratégia, a imagem da moda brasileira no exterior do que desenvolver o mercado interno.
Outro ponto crucial: gestões (se é que é possível dar esse nome) familiares. Muitas marcas nasceram e continuam sendo geridas “em família”, o que é um péssimo negócio. Some-se a isso a falta de qualificação profissional, o que é um problema grave no Brasil, e temos uma tragédia anunciada. É impressionante a relutância de várias empresas em contratar bons profissionais pensando apenas nas despesas trabalhistas. Ou então contratam coordenadores de estilo com salários polpudos, enquanto o resto da equipe ganha pouco mais de um salário mínimo. Mas todos “têm que vestir a camisa”, claro…
Por fim, não custa lembrar que o novo calendário de desfiles e a vinda das marcas estrangeiras para cá esbarram em mais uma questão delicada: as cópias. O modelo de viagem de “pesquisa”, onde se fotografava peças escondido ou comprava-se para depois fazer modelos “inspired” (= copiados) não tem mais como se sustentar, afinal os produtos originais agora também estão disponíveis por aqui, talvez até com preços mais baixos do que os locais! Ou seja, mais do que nunca a diferenciação e a originalidade são fundamentais para quem quer sobreviver no mercado.
Mudanças não costumam ser fáceis e em geral há muita resistência a elas. Mas acredito que a moda brasileira chegou a um ponto em que não dá mais para ficar de braços cruzados, vendo a banda passar. O histórico do setor mostra que sempre existiram dificuldades e que elas foram vencidas. Está na hora de superar mais uma.
Foto: Gilles Bensimon/Elle