Nesta semana, a Modalogia publica uma série de entrevistas sobre o mercado de luxo brasileiro.
Silvio Passarelli é professor e um dos responsáveis pelo MBA em Gestão de Luxo, da FAAP, curso referência e pioneiro no país. Depois de anos de experiência no setor, compilou lições e orientações sobre o mercado, que estão reunidas no livro “O universo do luxo – marketing e estratégia para o mercado de bens e serviços de luxo” (editora Manole). A obra faz parte de uma trilogia que deve ser lançada até o final de 2011: o segundo livro sobre o consumidor e o comportamento de luxo, e o terceiro sobre empreendedorismo no setor.
Nesta entrevista, ele fala sobre o que o país precisa melhorar no setor, ambiente de varejo, marcas de luxo brasileiras e como a crise afetou o mercado.
Modalogia: Que medidas econômicas e tributárias ajudariam a aumentar a entrada de marcas de luxo no Brasil?
Silvio Passarelli : A primeira medida seria a redução da alíquota do imposto sobre importação. Este tipo de imposto cria uma falsa idéia de proteção à indústria nacional, porém não a protege e nem diminui os desejos do consumidor. É uma política completamente equivocada. Acho que falta cosmopolitismo do governo pois numa economia globalizada não faz mais sentido este tipo de política.
O mercado de luxo também se beneficiaria se o contrabando e as falsificações fossem combatidos com severidade. Essas práticas vulgarizam e banalizam a marca pois pessoas que não tem o perfil da grife consomem os produtos.
Outra medida importante é disseminar a cultura do luxo. Fazendo isso, naturalmente uma demanda mais qualificada em todos os setores vai aumentar. Esta política cultural tem tudo a ver com o mercado.
Finalmente, acho que o combate à inflação é uma medida importante porque a inflação é o grande inimigo do mercado de luxo. Um consumidor ameaçado pela alta dos preços imediatamente vai deixar de consumir o supérfluo.
Modalogia: Que tipo de produto de luxo tem resposta mais imediata do consumidor brasileiro?
Silvio Passarelli: Em primeiro lugar, alimentos e bebidas, pois já têm disseminação forte no mercado. Em segundo, produtos duráveis. Carros são o melhor exemplo e pesquisas apontam previsões otimistas para o Brasil, com vendas crescendo entre 25 a 30% no setor automobilístico de luxo. A cultura de relações sociais, ou seja, a oferta de serviços de luxo, joias, cosméticos, perfumaria e peças de roupas são os outros setores com boa resposta.
Modalogia: No livro, há um capítulo dedicado à gestão de luxo e outro sobre o luxo na crise, já que o setor foi mais afetado do que se esperava. Quais marcas souberam administrar este momento e quais vantagens elas apresentam em relação às outras?
Silvio Passarelli: A crise explicitou problemas incubados. As grifes que mais sofreram tinham problemas de gestão e já despertavam desconfianças. A Hermès é uma que faz a lição de casa com propriedade e conquistou um alto grau de imaterialidade, por isso não foi abalada. A Louis Vuitton também é uma marca “puro sangue”. No setor automobilístico, BMW, Mercedes-Benz e Ferrari são ótimos exemplos de boa gestão, assim como Aston Martin e Bugatti, que estão chegando no país, em revendedoras de São Paulo.
Modalogia: Qual é o melhor ambiente de varejo para uma marca de luxo no setor de moda se posicionar quando chega ao Brasil? Por quê?
Silvio Passarelli: No Brasil as coisas são diferentes. Enquanto no mundo as grandes marcas ficam concentradas em ruas mais chiques, aqui o shopping tem esse papel já que fornece a falsa ilusão de segurança. Na maioria dos lugares, o shopping não é lugar de grifes de luxo, porém no Brasil, especialmente em São Paulo temos o Cidade Jardim, que não é tão rigoroso no mix de lojas estritamente de luxo e, claro, o Shopping Iguatemi, que é o mais conhecido. No Rio estão o Shopping Leblon e o Fashion Mall. Particularmente acho a loja de rua mais confortável.
Mesmo com a presença forte dos shoppings, temos a região da Oscar Freire em São Paulo e a Garcia D’Avila, no Rio de Janeiro. A diferença entre as duas cidades é que a praia, no caso dos cariocas, confere um clima de luxo despojado, enquanto em São Paulo é um luxo mais “estruturado”.
Modalogia: O Brasil possui alguma marca de luxo?
Silvio Passarelli: Algumas marcas brasileiras têm potencial de luxo. A H.Stern alcança o mercado mundial e já disputa com nomes internacionais. A marca própria da Daslu não chega a ser de luxo, mas enquadra-se na categoria premium e vende bem aqui e lá fora. No Rio de Janeiro, o melhor exemplo é a Osklen. Oskar Metsavath é um craque, faz produtos entre premium e luxo e formou uma grife com identidade própria, com raízes internacionais.
O Carlos Miele fez um bom trabalho abrindo loja no Meatpacking District, em Nova York, depois em Paris e vem crescendo. Na joalheria, o Antonio Bernardo soube criar valor estético para suas peças.
Em outros setores, destaco as construtoras de luxo fazendo condomínios com comodidades e detalhes que fazem a diferença. A construção de resorts, campos de golfe e shoppings também encontram alto potencial dentro deste mercado. Nos próximos anos devemos viver um boom de empreendedorismo em restaurantes, hotéis e na área de alta gastronomia.