Infelizmente perdi a palestra que Jean Paul Gaultier fez no Festival do Rio, mas consegui assistir ao documentário sobre sua carreira, o “Jean Paul Gaultier: Quebrando as Regras”!
Os filmes sobre os bastidores da moda viraram tradição do Festival (“The September Issue” e “Valentino: The Last Emperor” foram alguns que passaram nos últimos anos) mas o de Gaultier tem algumas peculiaridades. Para começar, ele foi dirigido por Farida Khelfa, uma de suas ex-modelos e musas, o que já dá um tom bem mais intimista às entrevistas. Por outro lado, o documentário não tem a ação e a agilidade de “Marc Jacobs & Louis Vuitton”, por exemplo, onde Marc pouco fala diretamente com a câmera, e o diretor Loïc Prigent vai desvendando seu universo com um olhar muito mais curioso, e por isso mesmo mais revelador.
Na maioria das cenas, Gaultier vai contando sua história – desde o início na Pierre Cardin até a colaboração com a Hermès, passando pela parceria com Madonna, a criação dos famosos perfumes e a elaboração da alta-costura, além de momentos importantes da vida pessoal (seu companheiro e sócio Francis, morreu de AIDS por volta de 1990). Dita Von Teese e Carla Bruni (ridiculamente linda) também o entrevistam.
As melhores cenas, sem dúvidas, são as de acervo, que mostram os primeiros desfiles, os bastidores, os temas das coleções e as supermodelos nas passarelas. É ali que temos a real dimensão de como a moda mudou profundamente nestas três décadas desde que Gaultier se lançou. Pelas imagens dava para sentir o clima amigável e muito mais artístico que imperava no mercado. A moda era de fato uma manifestação autoral e a roupa era vista quase como obra de arte. Lançar uma coleção era quase uma aventura e lucrar com ela praticamente um milagre! Talvez seja esse espírito mais leve e audacioso, que Gaultier mantém até hoje e que a indústria perdeu, a melhor “lição” que tiramos do filme.
Saí de lá pensando em quantos talentos brilhantes não tem mais chance de se revelar no atual sistema da moda…