Ronaldo Fraga e Adriana Degreas
Não sei se “highlights” é a palavra apropriada pois apesar de alguns desfiles terem sido bem interessantes, um clima tenso paira no ar. Será que não está na hora de todos os setores da moda brasileira sentarem para discutir a situação nada favorável da nossa indústria? Na área têxtil, a concorrência da China é cada vez mais desleal, no varejo, a invasão das grifes de luxo estrangeiras assusta, já que muitas estão chegando com preços similares aos produtos nacionais. Como competir com uma etiqueta reconhecida e desejada mundialmente? Na outra ponta, o fast fashion se expande e tanto as lojas nacionais como as internacionais não estão medindo esforços para conquistar os consumidores da classe C e até mesmo os da A/B que gostam de brincar de highxlow. E ainda tem a questão do turismo, que está levando muita gente a viajar para o exterior para abastecer o guarda-roupa da família inteira.
Água de Coco e Alexandre Herchcovitch
O que sobra para as marcas nacionais então? Muito pouco. As grifes que pertencem aos grupos investidores parecem estar perdidas, com produtos pouco relevantes e ações de marketing incapazes de atrair e reter clientes. As que trabalham com roupas de festa tentam se garantir pela exclusividade das peças e pelo atendimento personalizado. No meio de tudo isso tem a questão dos impostos, os custos trabalhistas, a logística de distribuição… Como sustentar toda a cadeia desta forma?
Ampapô e Animale
O discurso que a moda é um dos setores que mais empregam pessoas está tão batido que nem vale a pena tocar. Porém, um dos grandes problemas continua sendo a falta de gestão das empresas e a resistência em muitas delas de procurarem profissionais experientes para conduzir negócios ainda familiares. Enquanto não houver um esforço coletivo, e também um “mea culpa” de todos os envolvidos, nossa moda vai continuar vendendo apenas ilusões. De que adianta ser o 5º maior evento de moda do mundo e o maior da América Latina quando nossas grifes não conseguem ter relevância alguma no exterior – e, pior ainda, mal conseguem bater as próprias metas de faturamento?
Voltando aos desfiles, aplausos para Ronaldo Fraga (apesar da polêmica do cabelo de Bombril), Fernanda Yamamoto, Neon, Adriana Degreas e as belas estampas da Água de Coco e da Amapô, além das marionetes imitando top models de FH – Fause Haten. Boas coleções também na Osklen, Animale, Têca e Herchcovitch.
Têca e Neon
Osklen