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Arte e moda têm uma relação complicada. Enquanto uns defendem que a moda é uma forma de arte, outros rejeitam a ideia completamente. Miuccia Prada, por mais irônico que pareça, está no segundo time. Irônico sim, pois sua marca tem uma relação muito estreita com as artes através da Fondazione Prada e das colaborações com cineastas (Ridley Scott e Roman Polanski, entre vários outros), arquitetos (o holandês Rem Koolhaas, por exemplo, é o responsável por projetar algumas lojas “epicentros”), além de muitos outros artistas.
Mesmo assim, Miuccia acha que seu trabalho não tem nada a ver com arte. Vindo de alguém com doutorado em Ciências Políticas e que pensava que para ser estilista era preciso “desistir do cérebro” é compreensível. Por outro lado, ela era uma militante que gostava de moda e costumava sair para os protestos vestindo Yves Saint Laurent, sua maior referência.
O contato com produtos de luxo existia por causa do negócio da família, a loja de malas e acessórios de couro fundada pelo avô, Mario, em 1913, na Galleria Vittorio Emanuele, em Milão. Miuccia, no entanto, só assumiu a marca em 1978, sem ter a menor ideia do que pretendia fazer com ela. Por insistência do marido, Patrizio Bertelli, resolveu apostar na moda feminina, já no fim dos anos 80, após lançar uma certa mochila preta de náilon que virou hit mundial.
A década seguinte foi transformadora. Miuccia colocou sua intelectualidade a serviço da moda sempre com a intenção de subverter padrões. Figuras tipicamente femininas, como a matriarca, a prostituta e a freira foram referências importantes, assim como suas raízes burguesas. A mulher Prada não está preocupada em ser bonita ou atraente, mas sim poderosa (O Diabo Veste Prada, lembra?) sem perder a feminilidade. Ela não precisa da beleza para instigar o desejo, por isso suas roupas “feias porém cool” logo encantaram a mídia e despertaram a curiosidade do público. Some a isso uma constante apropriação do passado com um olhar voltado ao futuro e o cenário está completo.
Tanto na Prada quanto na Miu Miu, no feminino e no masculino, Miuccia deixa sua marca registrada de inovação a cada coleção. Ela sabe que tem o poder de mudar o rumo da moda, de trazer novos conceitos e reflexões sobre a forma como nos vestimos. E por cerca de 20 anos tem feito isso de um modo impecável, vigoroso e surpreendente.
Por tudo isso, a Prada é o arquétipo do Criador. Seu desejo de criar algo novo e dar forma à sua visão não-conformista transformou a moda contemporânea. Não é exagero dizer que tudo que a Prada faz o resto do mundo corre atrás, pois em cada detalhe de modelagem, de cartela de cores, de tecidos e de acessórios estão os conceitos que norteiam a temporada. Ela pode ou não fazer arte mas não há dúvidas de que sua influência fez história!