Essa é a pergunta que todo mundo anda se fazendo nesta temporada. Teoricamente, quanto mais talentoso, maior seu valor de mercado. Porém, o que realmente significa ser talentoso? Só criatividade não basta. E isso já foi provado desde que os grandes nomes da alta-costura apareceram no século passado. Sim, Chanel revolucionou a moda, mas ela teve vários empurrõezinhos de seus namorados influentes e amigos da alta-sociedade. Christian Dior só lançou o New Look porque tinha o magnata da indústria têxtil, Marcel Boussac, bancando tudo. Yves Saint Laurent tinha Pierre Bergé para segurar as pontas, Valentino teve Giancarlo Giammetti e Marc Jacobs, Robert Duffy, ou seja, talento e criatividade são obviamente importantes, mas não suficientes.
Em tempos de moda corporativa, o que se busca mesmo são designers com um olhar global, que compreendam o poder da marca acima de tudo e que saibam “jogar o jogo” com executivos, equipes de estilo e de marketing e, claro, com o consumidor, dando a ele os tais objetos de desejo instantâneos.
Talvez o que tenha deixado todo mundo surpreso na recente dança das cadeiras da moda (Jil Sander voltando e Raf Simons saindo, Stefano Pilati fora da YSL, e agora o afastamento de Maxime Simoens da Leonard depois de apenas seis meses, com rumores que esteja indo para a Dior) não seja a falta de talento dos estilistas, longe disso, mas a forma como tudo foi conduzido. Demissões e substituições fazem parte do dia-a-dia de qualquer indústria e com ou sem grandes impactos, as marcas quase sempre se recuperam comercialmente (vide o exemplo da Gucci sem Tom Ford e até da Dior sem um sucessor ainda pra John Galliano).
A questão aqui é tom espetaculoso e especulativo da situação, começando pelas escolhas das datas para divulgar as notícias, bem no meio da temporada de desfiles, quando tudo tem uma repercussão muito maior. Alguém duvida que seja intencional? O fim da história a gente já sabe: um mal estar coletivo, estilistas visivelmente desconfortáveis e uma onda sem fim de boatos. Mas como o show não pode parar, todo mundo segue em frente, ironicamente sempre em busca do próximo grande “talento”. E a dança das cadeiras recomeça.