No último dia de uma longa e dramática temporada, Marc Jacobs nos leva a refletir o real motivo de assistirmos a tantos desfiles, ver 1 milhão de peças e desejar ardentemente várias delas: o fetiche. Afinal, o que é a moda senão um grande fetiche? Empregadas uniformizadas e de espanador em punho recebiam os convidados da Louis Vuitton em um cenário que lembrava um hotel antigo, todo decorado em preto. Quando o desfile começou, repleto de peças envernizadas, emborrachadas, plastificadas, de pele fake e outros materiais deliberadamente fetichistas como as meias 7/8, os micro shorts, as botas altas, o combo sapato boneca + blusa de gola Peter Pan, e até uma bolsa de ouro, não havia dúvidas. Todos esses signos são um “tapa na cara”. As modelagens lembrando ampulhetas, com cintos-corpetes, casacos (de botões grandes) acinturados e corsários volumosas nos quadris não caíam perfeitamente nos corpos das modelos e talvez fossem mais um sinal que Marc queria dar sobre o incômodo que o fetiche, ou melhor, a moda provoca nas pessoas.
Depois de Naomi Campbell, Amber Valletta e Karolina Kurkova desfilarem, Kate Moss (que há anos não pisava em uma passarela) fecha o desfile fumando, de shortinho de couro, simbolizando a top model suprema, outro fetiche da mídia, da moda e de toda uma indústria de entretenimento que sai dessa temporada em clima de ressaca moral, como quem participou de uma grande orgia mas agora precisa assumir as conseqüências de tanta luxúria.
Já na Miu Miu, Miuccia Prada ironiza os anos 40 e uma mulher aparentemente adulta. A silhueta de ombros largos, mais fina nos quadris e com muitos vestidos-casaco, também de grandes botões parecia bem adulta até as estampas de flores e pássaros quebrarem a rigidez. A cartela, formada por preto, marinho, bege e laranja queimado, reforçou a falsa seriedade das peças, que só as muito jovens podem encarar , já que os looks são visivelmente “envelhecedores”.