Sobre a Mudança no Calendário da Moda Brasileira

A notícia divulgada ontem sobre a mudança no calendário oficial da moda brasileira não foi uma surpresa, pois há algum tempo se discutia a necessidade de modificações, mas ao mesmo tempo causou grande impacto pois a antecipação é grande: o inverno deixa de ser desfilado em janeiro e passa para outubro e o verão muda de maio/junho para meados de março. Dessa forma, o Fashion Rio e o SPFW vão acontecer logo depois das semanas internacionais de prêt-à-porter feminino, porém com estações trocadas (fevereiro/março é a vez do inverno e setembro/outubro eles desfilam verão, lembram?). Este ano para acertar os ponteiros vamos manter o verão no fim de maio mas já teremos o inverno em outubro, ou seja, serão três temporadas em cerca de dez meses. Ufa!

E a parte prática disso tudo? Segundo o release oficial, o acordo foi feito após conversas com as marcas envolvidas, pensando nos grandes eventos que o Brasil vai sediar nos próximos anos e no fato da cadeia produtiva da moda estar madura para encarar esta grande transformação. Ele termina dizendo que “a revisão das datas traz a possibilidade de um planejamento melhor de desenvolvimento das coleções até uma gestão comercial mais efetiva, consolidando um intervalo maior entre lançamento e chegada no varejo.”

Hum…visão otimista, não? O problema é que a gente sabe que não é bem assim que funciona. A maioria das marcas de moda, incluindo as que desfilam nos eventos, ainda tem gestões (se é que podemos usar esta palavra) amadoras e planejamentos inexistentes. Fora que a prática da cópia ainda é uma realidade pra muita gente, que só começa a desenvolver as coleções após as viagens de “pesquisa” pros EUA e pra Europa, que acontecem exatamente na época de lançamentos de varejo lá fora…entre os meses de março (primavera/verão) e setembro (outono/inverno). E aí? Como eles vão fazer agora?

Para piorar, pelas conversas que tive com profissionais do atacado, as encomendas estão sendo feitas em prazos cada vez mais curtos, pois os donos de multimarcas querem escoar toda a mercadoria da estação anterior antes de organizarem as compras da próxima. Será que eles estão dispostos a investir em coleções apresentadas com tanta antecedência? A venda em atacado é o que sustenta muitas grifes, que baseiam a produção nesses pedidos. Até esse acerto ser efetivado vai levar um tempinho…

Esta mudança também afeta eventos paralelos, como o Minas Trend, que provavelmente vai ser obrigado a rever suas datas. O Fashion Business por sua vez também passará por mudanças: a edição de inverno será transferida para novembro, como a própria Eloysa Simão já havia anunciado, e não será mais no Jockey Club da Gávea e sim em São Conrado, espalhada entre o último andar do Fashion Mall, o hotel Tulip Inn (antes Intercontinental) e a Villa Riso, segundo o colunista Bruno Astuto.

No fim das contas, tudo vai se ajeitar, afinal estamos no país do jeitinho, né? Se mesmo com as obras atrasadas e a falta de hotéis vamos sediar uma Copa e uma Olimpíada qual é a dificuldade de produzir uns desfiles alguns meses antes? Mesmo se as roupas da passarela não causarem impacto, com certeza nos bastidores tudo será, no mínimo, emocionante.

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