The September Issue: Eu Vi!

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Antes de mais nada, preciso dizer que a Vogue americana tem um papel fundamental na minha cultura de moda, mais do que isso, costumo dizer que não preciso de iPod, é só me dar uma Vogue, que em momentos que quero me isolar do mundo, ela é a melhor companhia…

Leio a revista desde os 17 anos, quando ela não era assim tão acessível de ser encontrada aqui, nem sombra de style.com existia e apenas uma meia dúzia de pessoas devia saber quem era Anna Wintour. São 13 anos de coleção, todas intactas e devidamente guardadas, capas memoráveis, editoriais inesquecíveis e muito conteúdo. Sim porque leio a Vogue de cabo a rabo, não compro só para ver as “figuras”. E a primeira coisa que leio é sempre a carta da editora.

Então, voltando a “The September Issue”… Como jornalista e como leitora é uma delícia ver o que de fato acontece naqueles corredores. Ver as reuniões de pauta, o comportamento das editoras, a boneca da revista sendo construída e os bastidores das sessões de fotos. Posso até ter uma visão ingênua, mas nem de longe vejo Anna Wintour como esse ser monstruoso. Prefiro acreditar que ela é desse jeito simplesmente porque tem uma responsabilidade gigantesca sobre uma indústria enorme, que as pessoas “leigas” e inseguras insistem em não dar o devido crédito e preferem sempre classificar como fútil e frívola. Vale lembrar também que quem criou o “monstro” Anna Wintour foi a própria mídia, que diariamente alimenta o mito.

Tudo bem, logo nas primeiras cenas, quando Anna diz que a moda tem algo que deixa as pessoas nervosas, talvez o certo seria dizer que ela tem algo que deixa as pessoas nervosas. É só ver como Stefano Pilati fica inquieto quando ela vai ver a coleção da Yves Saint Laurent e não disfarça sua decepção quando a editora faz uma cara de dar medo por só ver peças em cinza e preto… Quem viu e, melhor ainda, leu “O Diabo veste Prada” vai fazer conexões imediatas. Thakoon Panichgul, um dos talentos em ascensão do mercado americano, conta como estava ansioso ao conhecê-la e os próprios editores, Edward Enninful, Tonne Goodman e Elisa Santisi, ficam sem ação quando tem seus trabalhos vetados sem meias-palavras.

E aí entra Grace Coddington, a única que não se intimida e que está sempre disponível para ouvir as lamentações e aconselhar os intimidados… Mesmo sabendo lidar com Anna, nem sempre a visão de Grace prevalece e mesmo fotos incríveis (como uma de página dupla do editorial dos anos 20) podem ser descartadas por não atenderem o critério de Wintour. Visão cruel? Não, de mercado…

Em outra cena, ela aparece em uma reunião com os principais executivos das lojas de departamentos americanas (Bergdorf, Neiman, Saks…) e o CEO da Neiman pede ajuda dela para melhorar as datas de entrega dos pedidos! Afinal, sem entrega não tem venda e sem venda…não há negócio que se sustente. E este talvez seja o mantra de Anna. Ela sabe que se a moda não for bem lá na ponta final, ou seja, a do varejo, até seu emprego está em jogo. É por isso que ela cria iniciativas como a do Fashion’s Night Out, indica nomes para serem consultores de grandes redes (Thakoon para a espanhola Mango) e promove novos talentos no Vogue Fashion Fund (parte do prêmio é criar a linha Design Editions para a Gap). Ela tem total consciência de seu poder, influência e também do seu dever. No fim das contas, seu papel é igual ao de qualquer executivo de uma grande empresa, ou seja, manter os negócios saudáveis.

Não quero contar mais para não estragar a surpresa que quem vai ver o documentário de R.J Cutler, mas tenho algumas considerações finais:

1)      Por que não mandaram Sienna Miller fazer uma hidratação poderosa naquele cabelo ao invés de tentarem colocar uma peruca ridícula (e no fim das contas fazer um rabo de cavalo sem graça)?

2)      A sala de Wintour não é tão clean e ascética quanto em “O Diabo veste Prada”. É até bem aconchegante, com um ar meio romântico…

3)      Paris é sempre uma coadjuvante de peso em qualquer filme sobre moda. É assim desde “Cinderela em Paris” e Grace Coddington é a encarregada desta vez de apontar a beleza da cidade. Como se precisasse… Os americanos têm verdadeira obsessão com a cidade luz como referência de tudo que é luxo e glamour, já repararam?

O documentário de R.J Cutler está sendo exibido no Festival do Rio. As próximas sessões são sábado, dia 03/10 no Ipanema 1: 13h e 17h30. Mais informações no site www.festivaldorio.com.br

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