Se depender da indústria da moda, o retorno de John Galliano parece estar garantido. As entrevistas deste mês na Vanity Fair e no Charlie Rose Show deixam claro que ele está arrependido e tem se esforçado bastante para superar o episódio que lhe rendeu o posto de diretor criativo da Dior. O apoio de pesos pesados como Anna Wintour e o próprio CEO da Condé Nast, Jonathan Newhouse, além das declarações de Oscar de la Renta, que abriu as portas de seu ateliê para o estilista no inicio do ano, e de vários outros jornalistas, designers, editores etc mostram que ele merece uma segunda chance e que seu talento não pode ser ofuscado por problemas pessoais.
Acho que não cabe aqui discutir as razões e o processo que levou Galliano ao álcool e às drogas. Ele não foi o primeiro nem o último a sucumbir às pressões, que é sempre bom lembrar, não são exclusividade da moda. Para mim, o X da questão é a relevância do estilista para a moda atual. John é um mestre em contar histórias e criar espetáculos – seus primeiros desfiles para a Dior são absolutamente inesquecíveis – e é aí que mora o problema pois o espaço para este tipo de desfile-show está cada vez mais reduzido. E mesmo quando as apresentações são espetaculares, como na Chanel e na Louis Vuitton, por exemplo, as roupas são mais contidas, ou seja, podem muito bem sair da passarela e ir direto para o “look do dia” como reza a cartilha dos grandes conglomerados e dos CEOs com suas planilhas de vendas.
Mesmo quem arrisca produções mais conceituais, com a Sarah Burton para Alexander McQueen, tem um back up bem comercial (no caso a McQ) para garantir as vendas. E quem não está disposto a entrar no jogo, sofre as consequências como bem falou Nicolas Ghesquière.
Muito antes de sua saída da Dior, Galliano já tinha sido podado pelo próprio Bernard Arnault, que estava preocupado com a queda nas vendas diante de desfiles ultra conceituais, onde as modelos ficavam irreconhecíveis! Suas últimas coleções não variavam muito, eram extensas releituras do New Look e já não traziam nada de novo ou impactante. Estava claro que a liberdade criativa estava comprometida. E tome campanhas da bolsa Lady Dior, o bate-caixa da marca…
E agora? É este cenário, onde o estilista precisa ser o “Mr. Merchandiser” que espera John Galliano. Fica a pergunta: será que ele vai se adaptar? Será que ele deve se adaptar? Retornar para a própria grife é uma opção praticamente descartada pois Bill Gaytten está fazendo um bom trabalho. No ano passado surgiram boatos que ele assumiria a direção criativa da Elsa Schiparelli. No entanto, a grife vai ser relançada no próximo mês na semana de alta-costura parisiense pelas mãos de Christian Lacroix em uma coleção cápsula. Por falar em Lacroix, talvez ele seja um bom exemplo para Galliano ao mostrar que há vida fora da moda. Desde que sua grife faliu em 2009, o estilista se dedicou a criar figurinos e decorar hotéis. Por isso, nada impede que o talento de Galliano seja empregado nessas e em outras áreas, em projetos que valorizem justamente o que ele tem de melhor: a capacidade de comunicar visualmente uma bela história. E belas histórias são sempre muito relevantes e encantadoras!