A Rússia Está na Moda

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Trajes populares russos, na Fundação YSL, em Paris.

A Rússia está em cartaz na Fundação Pierre Bergé-Yves Saint Laurent, em Paris. Trata-se da exposição “Le Costume Populaire Russe” que ocupa a Fundação até 10 de agosto. A parceria com o Museu Etnográfico de São Petersburgo trouxe para a capital francesa trajes rurais de festas e celebrações que vão desde o século XIX até o início do século XX, além de uma série de fotografias que pertence à coleção do museu. A música da época colabora para o clima de maravilhoso que se tem ao entrar na sala de exposição. A riqueza dos trajes, 45 ao todo, em sua maioria femininos, impressiona. As sobreposições de peças, os cortes, os brocados dos tecidos, os bordados em linhas de cores vivas, ouro ou prata criam padrões decorativos alegres e as pedras e aplicações fazem de chapéus verdadeiras jóias. As roupas eram costuradas quase que inteiramente pelas próprias mulheres que as vestiam. Os tecidos nobres também impressionam, assim como a cartela de cores, daquelas que deve dar inveja até em Marc Jacobs. As peças primam pelo caráter artesanal, pelo ar folclórico e envolvem o visitante numa dança.

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Outros trajes russos, na exposição que fica em cartaz até 10 de agosto, em Paris.

 Yves Saint Laurent inspirou-se na Rússia para criar sua coleção de outono/inverno 1976-77. Alguns looks estão expostos lado a lado com os originais russos e à primeira vista se confundem com os mesmos. Saint Laurent usou veludos e sedas, além de bordados tão luxuosos quanto os originais da mostra.

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Modelos da coleção russa de YSL, do outono de 1976/77.

O país está em evidência na TV também. No começo do mês, a CNN exibiu o programa intitulado “Moscow – My City, My Life”, apresentado pela super modelo Natalia Vodianova. Considerada a mulher mais bonita do mundo por Tom Ford, Natalia já tinha sido capa da Vogue Paris quando a revista dedicou a edição de outubro de 2006 à Rússia. Natalia fala das tradições da capital russa, diz que as matruskas (aquelas bonecas que se encaixam umas por dentro das outras até se reduzirem a um tamanho minúsculo) são como a Barbie para o país e afirma que a vodka produzida ali é a melhor do mundo. A modelo passeia pelos cartões postais da cidade que foi palco da Revolução de 1917, a mesma que colocou a ex-União Soviética em tempos de dificuldades econômicas. Ela nos mostra também as incríveis estações de metrô e o lado moderno da cidade, recentemente inundado por galerias de arte, assunto sobre o qual os russos parecem entender cada vez mais.

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O Kremlin de Moscou, sede do governo.

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Sala do Museu Hermitage, em São Petersburgo.

Os milionários do país têm sido notícia nos jornais mundo afora por movimentarem o exclusivo círculo das artes e leilões. Uma geração de jovens russas bem casadas está investindo em Fundações e compra e venda de obras. Uma delas, Stella Kesaeva, à frente da Fundação Stella, fez uma mostra de arte russa na última Bienal de Veneza. O milionário Abramovich, do setor de mineração, por sua vez, arrematou num leilão da Sotheby’s nova-iorquina, em maio de 2008, obras de Francis Bacon e de Lucien Freud que juntas somaram mais de 120 milhões de dólares. O interesse dos russos pelo mercado de arte deu um boom não só em leilões e compras ao redor do globo, mas impulsionou também a produção de artistas nativos, colocando a Rússia no mapa da arte contemporânea.

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Duas estações de metrô no centro de Moscou.

 

Foi da Rússia também que saiu o sujeito que revolucionou a história do balé clássico e colocou nomes como Nijinsky e Ida Rubinstein na boca do povo. Há exatos 100 anos, Serge Diaghilev deu nova roupagem ao balé clássico e pavimentou a estrada para o surgimento da dança moderna. Visionário, Diaghilev juntou em seu entorno nomes célebres como Picasso, Miró e De Chirico, que fizeram cenários para montagens do Ballets Russes. Ravel, Debussy e Stravinsky compuseram obras originais para as montagens. A estréia da companhia foi em Paris, fazendo com que a dança virasse ponto de convergência para todas as artes. Foi tão influente que a montagem de 1910, “Scherazade”, lançou moda, abrindo as portas para o sucesso do estilista francês Paul Poiret, que por sua vez foi fonte de inspiração para diversas criações de John Galliano para a Maison Dior. Ambos levaram a opulência do Ballets Russes para suas roupas.  

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“Sherazade”, peça da companhia Ballets Russes, de Diaghilev,  e uma criação de Paul Poiret.

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Duas criações de Galliano para a Maison Dior, 1998.

Moscou hoje é um destino turístico muito procurado, e para chegar na cidade, vindo de Washington, USA, é preciso encarar os quase 900 dólares de passagem, além das 10 horas de vôo. Há outras formas de conhecer um pouco mais o universo extenso e cheio de História da Rússia. Guerra e Paz, um dos livros mais celebrados da literatura, retrata a Rússia durante o período das guerras napoleônicas, traçando mais um paralelo do país com a França. O autor, Leon Tolstoi, conta a história de 5 famílias aristocráticas do período. O filme Arca Russa, de 2002, por sua vez, é um delírio cinematográfico e um deleite para os olhos. O filme se passa em 1700 no que hoje é o museu Hermitage, em São Petersburgo, e que um dia funcionou como residência dos Czares russos até a queda da monarquia. Trata-se de um longuíssimo plano-sequência (ou seja, sem cortes. O diretor ligou a câmera e filmou os 97 minutos do filme sem gritar “Corta!” uma só vez!) em que acompanhamos o personagem principal transitando pelas salas do museu e recontando a história do país do século XVIII ao XXI. A retrospectiva da obra do russo Wassily Kandinsky que acontece no Centre Georges Pompidou, em Paris (até 10 de agosto), é mais um exemplo da força da arte moscovita. A busca incansável pela cor pura fica evidente nas telas de Kandinsky, que inaugurou o que passou a ser conhecido como arte abstrata.

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Imagens do filme “Arca Russa”, 2002.

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A tela “Cossacos” (1910/1911) de Wassily Kandinsky.

 A Rússia invade também as salas do CCBB Brasília. A exposição traça um panorama da chamada vanguarda russa, composta pelo já citado Kandinsky, além de Marc Chagall, Malevich e Mikhail Larionov. A exposição passa também por Rio e São Paulo.   

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“Promenade”, obra de Marc Chagall.

 

E como aconteceu com Yves Saint Laurent, o país ainda inspira a moda. Recentemente, a Rússia apareceu no desfile de inverno 2009 do brasileiro Samuel Cirnansck, que trouxe para a passarela o mundo do balé e das Czarinas, como Catarina, a Grande.

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Inverno 2009 de Samuel Cirnansck.

 O país ainda deve render muito assunto. Dada à sua rica e extensa História, a Rússia ainda guarda armas secretíssimas que certamente vão nos encantar e tirar nosso fôlego.

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