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Era uma vez uma menina apaixonada por revistas de moda, particularmente a Vogue americana. Descobrir quem era a capa do mês, folhear as páginas, admirar os editoriais da Grace Coddington, ler sobre os estilistas do momento e conferir as campanhas das marcas amadas era um prazer enorme e também a forma como adquiriu grande parte da sua cultura de moda. Ela viu as modelos serem substituídas por celebridades, trocou o papel pelo tablet e acompanhou a Vogue se expandir digitalmente. Porém, um dia, na hora de renovar sua assinatura percebeu que o que era prazer virou um hábito e que não fazia mais sentido mantê-lo. Depois de anos vendo as mesmas celebridades com pouco ou nada a dizer nas capas, matérias cada vez mais superficiais e tentativas constrangedoras de aumentar a presença online (como deve ser difícil editar os 10 melhores Instagrams de beleza da semana, né???), sabia que tinha chegado a hora da separação e deu fim a uma relação de quase 20 anos com a Vogue.
O problema é que como ela, milhares de outras leitoras também estão dando adeus às revistas de moda. Enquanto isso, a geração de 20 anos não dá a mínima para essas publicações pois cresceu acostumada a acessar conteúdo via blogs e redes sociais. Isso quer dizer que as revistas estão fadadas ao esquecimento? Até existe esta possibilidade, mas a culpa não é da internet mas do jeito como as publicações estão se relacionando com o público.
Para começar, as Vogues, Elles e Bazaars da vida perderam a autoridade e o poder de influenciar a moda. Deixaram de ser líderes para ser seguidoras graças às patéticas tentativas de falar com uma audiência “surda”. Em vez de cultivar o público que cresceu com elas, insistem em competir com blogueiras/vlogueiras ou colocam Kendall Jenner e Gigi Hadid em todas as edições. A idade média da leitora da Vogue é 38 anos, como estou quase lá posso dizer com toda propriedade que “social influencers” não me inspiram a comprar revista. Tenho certeza que muita gente concorda comigo. Nada contra, mas pra saber da vida delas, basta segui-las no Instagram.
Com isso, as revistas estão perdendo a chance de se reinventarem, de serem um veículo mais analítico, que traz um conteúdo mais aprofundado. Em vez de explorarem um novo tipo de comunicação, se deixaram absorver por demandas imediatistas e tentam um approach que simplesmente não combina com a imagem que por décadas projetaram. O resultado é forçado, artificial e… irrelevante. Quando foi a última vez que uma capa da Vogue causou sensação? Quando a Kim Kardashian estava nela? Qual foi o impacto disso para a indústria? Nenhum.
Acredito sinceramente que revistas de moda foram criadas para vender sonhos, para lançar imagens que propositalmente são irreais, mas que inspiram criatividade e, sim, consumo de uma forma direta. O distanciamento entre a publicação e sua leitora faz parte deste jogo. Já a internet (blogs, vlogs, redes sociais) suscita exatamente o oposto: é o espaço para interações rápidas, trocas e uma relação mais direta com o consumo (literalmente, um produto está a cliques de distância). As duas formas de obter informação de moda não precisam ser excludentes, pelo contrário, elas podem muito bem se complementar – desde que cada uma tenha total compreensão de seus domínios, o que infelizmente não está acontecendo dentro do escritório da Anna Wintour…