Sob o título “Fashionz’olhos”, OEstudio apresentou seu outono/inverno 2009 com uma trilha sonora que era, na verdade, uma voz dizendo trechos do livro “A grande bolha de Wall Street”, de Paulo Rabello de Castro. Em síntese, o coletivo carioca quer falar da cegueira social, e concebeu peças onde uma mão preta é posicionada estrategicamente em ombros e mangas, simbolizando o apoio de que necessitam as pessoas que não podem enxergar. O coletivo fez um workshop no instituto de cegos Benjamim Constant, no rio de Janeiro.
Com menos estampas que o habitual, a cartela de cor tem azul, verde, preto, cru e branco. Os ganchos baixos estão lá, em macacões e calças, algumas com vazados nos joelhos e fivelas emendando. O styling conta com alguns bons elementos que fazem alusão à cegueira, como o chapéu que cobre um olho e deixa espaço para o outro. As diversas texturas valorizam o tato dos que não enxergam, surgindo na passarela casacos de lãs felpudas e outras de aspecto rústico, e bolinhas em alto relevo que fazem pequenos repuxados em vestidos e saias pretos para as moças, e na camisa azul dos rapazes.
Os sapatos são pontudos e algumas saias lembram saruéis bem folgadas com barrados arredondados. Alguns modelos entram com bengalas e outros apoios nas mãos. Ao longo da passarela um cenário-instalação lembra um gráfico ou um eletrocardiograma. Na ponta, onde os modelos param para os fotógrafos, um vaso sanitário jorrava bolinhas de sabão. Muito conceito num exercício de moda instigante, pena que poucas pessoas vão usar.
Por Julia Wahmann