Brexit: Reflexões sobre a Indústria da Moda


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Na sexta-feira passada, acordei com a triste notícia de que o Reino Unido escolheu deixar a União Europeia. Apesar de não poder dizer que estava totalmente surpresa, pois as pesquisas apontavam a vitória do Leave, nutria a esperança que no fim das contas o Remain ganharia por uma margem pequena. Desde então, o clima de incerteza política e econômica tomou conta, impulsionado pela mídia que parece só colocar mais lenha na fogueira em uma situação que requer calma, paciência e racionalidade – ok, o que é muito difícil quando milhões de coisas estão em jogo, mas é o caminho mais curto para se ver a luz no fim do túnel.

Resolvi escrever este post para falar um pouco das perspectivas para a moda e a indústria criativa, que apesar de gerar 84.1 bilhões para a economia do Reino Unido  todos os anos e crescer quase o dobro do resto da economia, é uma das primeiras a se fragilizar em momentos de crise. Some isso ao fato de que milhares de europeus, em Londres principalmente, trabalham nela e não é difícil visualizar o pânico batendo na porta. Em uma pesquisa feita pelo British Fashion Council, 90% dos designers que responderam disseram que queriam ficar na União Europeia e durante a London Collections: Men, há algumas semanas, vários mostraram apoio ao Remain desfilando camisetas ou postando nas redes sociais, incluindo Vivienne Westwood, Christopher Raeburn e Sibling. No dia do resultando, minha timeline do Instagram foi inundada por fotos lamentando a saída, postadas por stylists, fotográfos, modelos, estilistas etc. Para a maioria deles, e para quem vê de fora, o Brexit representa um voto contra a globalização e o multiculturalismo, tão naturais à indústria da moda, que emprega profissionais de diferentes nacionalidades, produz e vende produtos pelos 4 cantos do mundo.

Então, o que vai acontecer daqui pra frente? Ainda é muito cedo para dizer pois tudo vai depender dos acordos do governo britânico com a Europa. De antemão, com a recente queda da libra, fazer compras por aqui pode ficar mais barato e os turistas já estão tirando proveito desse câmbio e se jogando nas liquidações. Por outro lado, se no futuro os produtos europeus forem taxados é bem provável que Londres perca seu apelo como destino de compras, afinal a maioria das marcas, do luxo ao fast-fashion, vêm da França, Itália, Espanha e Suécia (Chanel, Dior, Gucci, Prada, Zara e H&M, por exemplo).

Outras grandes questões são a educação e o empreendedorismo. Hoje, o estudante europeu paga o mesmo que o britânico tanto nos cursos de graduação e de pós, valor que é menos da metade do pago por quem vem de fora da União Europeia. Qual vai ser o estímulo para eles virem pra cá se podem ir para Paris ou Milão por uma fração do preço – e ainda ter o direito legal de permanecer no país após o fim do curso para procurarem trabalho ou abrirem suas empresas? Um exemplo prático: no meu curso de mestrado  (onde em uma turma de cerca de 30 alunos, apenas 4 eram britânicas, o que mostra como as instituições são internacionalizadas), todos os alunos com passaporte europeu que estão abrindo suas empresas têm Londres como base, já que aqui existe muito estímulo ao empreendedorismo e programas de apoio para novos talentos que dão suporte tanto intelectual quanto financeiro, na maioria das vezes bancado pela EU. O Centre for Fashion Enterprise, uma espécie de incubadora, onde trabalhei no ano passado, é um deles, financiado por verbas que vêm de Bruxelas.

As mesmas lógicas se aplicam para setores como o design, arquitetura, artes, cinema, mídia e tecnologia, especialmente em Londres onde há um enorme mercado girando em torno disso tudo. Por essas razões, acredito que o melhor a fazer neste momento é olhar para o futuro de uma forma otimista e se unir para lutar por acordos favoráveis, como sugeriu o Rohan Silva, empreendedor e criador do co-working Second Home, nesta entrevista ao Dezeen.  Pessoalmente, acredito que o peso da economia e do mercado financeiro vai prevalecer no fim das contas e que será inevitável garantir a livre circulação de pessoas para ter acesso ao livre mercado, ou seja, na prática pouca coisa vai mudar.

Continuo trabalhando no desenvolvimento da minha empresa de consultoria e sonho um dia poder empregar pessoas e contribuir para o crescimento e expansão de muitas marcas. Não sou uma daquelas otimistas incorrigíveis mas acredito que a melhor resposta a tempos de crise é deixar o medo de lado e correr mais do que nunca atrás dos seus projetos pois atitudes positivas sempre abrem portas!

Ilustrações: @andreaangeli_  e repost da @dianekruger 

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